segunda-feira, 6 de abril de 2020

Série Lendas - Obaluae tem as feridas transformadas em pipoca por Iansã


Chegando de viagem à aldeia onde nascera, Obaluae viu que estava acontecendo uma festa com a presença de todos os Orixás. Obaluae não podeia entrar na festa, devido a sua medonha aparência. Então ficou  espreitando pelas frestas do terreiro.
Ogum ao perceber a angústia do Orixá, cobriu-o com uma roupa de palha que ocultava sua cabeça e convidou-o a entrar e aproveitar a alegria dos festejos.
Apesar de envergonhado, Obaluae entrou, mas ninguém se aproximava dele.
Iansã tudo acompanhava com o rabo do olho. Ela compreendia a triste situação de Omolu e dele se compadecia.
Iansã esperou que ele estivesse bem no centro do barracão. O xirê estava animado. Os Orixás dançavam alegremente com suas equedes.
Iansã chegou então bem perto dele e soprou suas roupas de mariô, levantando as palhas que cobriam sua pestilência. Neste momento de encanto e ventania, as feridas de Obaluae pularam para o alto, transformadas numa chuva de pipocas, que se espalharem brancas pelo barracão.
Obaluaê, o Deus das doenças, transformou-se num jovem, num jovem belo e encantador.
Obaluaê e Iansã Igbalé tornaram-se grandes amigos e reinaram juntos sobre o mundo dos espíritos, partilhando o poder único de abrir e interromper as demandas dos mortos sobre os homens.
Texto extraído do livro: Mitologia dos Orixás – Autor: Reginaldo Prandi – ED Companhia das Letras.

https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=11261

Série Lendas - OSSAIN, O Senhor das Folhas

Ossain recebera de Olodumaré o segredo das folhas. Ele sabia que algumas delas traziam a calma ou o vigor. Outras, a sorte, as glórias, as honras, ou, ainda, a miséria, as doenças e os acidentes.
Os outros orixás não tinham poder sobre nenhuma planta. Eles dependiam de Ossain para manter a saúde ou para o sucesso de suas iniciativas.
Xangô, cujo temperamento é impaciente, guerreiro e imperioso, irritado com esta desvantagem, usou de um ardil para tentar usurpar, de Ossain, a propriedade das folhas.
Falou do plano à sua esposa Iansã, a senhora dos ventos. Explicou-lhe que, em certos dias, Ossain pendurava, num galho de lroko, uma cabaça contendo suas folhas mais poderosas.
"Desencadeie uma tempestade bem forte num desses dias", disse-lhe Xangô. Iansã aceitou a missão com muito gosto.
O vento soprou a grandes rajadas, levando o telhado das casas, arrancando as árvores, quebrando tudo por onde passava e, o fim desejado, soltando a cabaça do galho onde estava pendurada.
A cabaça rolou para longe e todas as folhas voaram. Os orixás se apoderaram de todas. Cada um tomou-se dono de algumas delas, mas Ossain permaneceu senhor do segredo de suas virtudes e das palavras que devem ser pronunciadas para provocar sua ação.
E, assim, continuou a reinar sobre as plantas, como senhor absoluto.
Graças ao poder (axé) que possui sobre elas.

Texto extraído do livro: Lendas Africanas dos Orixás – Autor Pierre Fatumbi Verger. Ed: Pierre Verger

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Série Lendas - EXU - O Ferreiro e o Fole



Desde pequena tenho um fascínio por fogo e  costumo chegar cedo ao terreiro que frequento, não gosto de (tb não é correto) chegar após o início dos trabalhos e sempre que tenho a oportunidade, acompanho a preparação da defumação pelos filhos designados a função. 
Em nossa casa há um filho, que sempre que olho para ele vejo o cigano que o acompanha e em uma determinada data estava ele a preparar a defumação utilizando um Fole, que é uma ferramenta usada pelos ferreiros para atiçar fogo na hora da forja de metais, hoje também utilizado para acender a churrasqueira,  neste momento veio a visão de uma espécie de acampamento com algumas carroças e vários ciganos cantando e dançando em frente a uma fogueira, com um deles a acendê-la  com um instrumento bastante parecido ao utilizado pelo filho da casa. Por isso iniciarei os contos com este tema.


O Ferreiro e o Fole
O ferreiro e o fole andavam se desentendendo para saber qual dos dois era mais importante no trabalho da ferramentaria.
         - Se te falto, de que forma poderás manter acesas as brasas que tornam maleável o ferro que trabalhas? Sem mim és inútil e, por este motivo, sou mais importante do que tu! – afirmava o fole cheio de vaidade.
         Cansado de tanta amolação, o ferreiro foi pedir orientações a Exu e, para agradá-lo, presenteou-o com uma belíssima faca.
         No dia seguinte Exu compareceu pessoalmente à oficina e, como era de hábito, lá estavam os dois discutindo e o serviço parado...
         - É claro que és muito mais importante que este ferreiro inútil! – disse Exu ao fole. – Queres ver o quanto ele é incapaz? – E dirigindo-se ao ferreiro:
         - Anda sopre sobre as brasas! Quero ver se pode fazê-las ficarem acesas a ponto de incandescerem o ferro.
         E o podre homem, sem nada entender, começou a soprar inutilmente sobre os carvões, e, por mais que se esforçasse, não obtinha nenhum resultado. Os carvões mantinham-se apagados como no momento em que ali foram colocados.
         - Vês o quanto és fraco e inútil? – gritou Exu, humilhando ainda mais o ferreiro.
         - Agora, amigo fole, mostra nos o quanto és poderoso. Deixa que eu amarre tua boca à entrada da forja para que nada se perca do teu sopro arrasador.
         Tocado em sua vaidade, o fole permitiu que Exu amarasse sua boca à entrada da forja e, com alguns poucos sopros, acendeu as brasas. Imediatamente, os ferros ficaram incandescentes e prontos para ser trabalhados.
         - Agora este tolo já sabe qual de nós dois é o melhor, solta-me Exu, para que eu possa dar as ordens em seu trabalho! – solicitou o fole cheio de orgulho.
         - Soltá-lo? Mas por nada neste mundo!...- Surpreendeu Exu. – Teu lugar é aí, com a boca sobre as brasas, atiçando-as para que o ferreiro possa trabalhar em paz. Agora já deves saber qual dos dois é tolo e qual dos dois é mais importante dentro de uma oficina.
         A partir de então os foles têm suas bocas permanentemente presas às forjas e, sempre que precisa de seus préstimos, basta ao ferreiro espremer suas barrigas para que logo entrem em ação.

Texto extraído do livro Lendas de Exu – Adilson Martins – ed. Pallas
https://www.amazon.com.br/Lendas-Exu-Adilson-Martins-ebook/dp/B016R0N3M8

Intolerância Religiosa (Origem da série Lendas do blog)


Comenta-se com frequência a respeito da intolerância religiosa e eu quanto professora, jamais imaginaria que isto acontecesse em uma unidade de ensino, visto que noventa e nove por cento das pessoas que ali estão tem nível superior e acesso ao conhecimento. O assunto já foi inclusive tema do ENEM.
Observei ao logo dos anos dentro das escolas que a intolerância praticada era “velada”, quando uma das unidades em que trabalhava ganhou de um responsável uma coleção de livros. Os professores ficaram felizes com a oportunidade de oferecer um acervo maior aos seus alunos, porém ao direcionar os livros à biblioteca, dois ou três deles estavam separados e não foram para o acervo, a pessoa que recebeu a doação “retirou” os livros do acervo com a justificativa de que se os alunos levassem um livro “deste” para ler em casa os pais reclamariam, portanto estes seriam descartados.
A Constituição Federal de 1988 – norma de maior hierarquia no sistema jurídico brasileiro – assegura a todos a liberdade de crença e quando ouvimos as pessoas falarem do nosso País como laico, observamos a falta de medidas na luta contra a intolerância, uma vez que a intolerância é intensificada  pela “bancada evangélica” no poder público brasileiro, que interfere nas decisões politicas e sociais, muitas vezes incentivando a exclusão social e o direito à liberdade religiosa. É evidente que temos de tomar atitudes que amenizem o problema, é importante que nossos governantes sejam imparciais e as instituições de ensino sejam livres para mostrar nossa rica diversidade cultural.
A série de contos que colocarei abaixo pertencem a estes livros que seriam descartados. Acredito que devam sim serem divulgados, atingindo o maior número possível de pessoas.
A leitura tira as pessoas da ignorância. Segundo Adrian Luthiero e João Marcos Balby, "A leitura é a maior arma contra a ignorância, e o mais esplêndido modo de mudar o mundo. Pois com a leitura ganha-se conhecimento, e com conhecimento você conquista o mundo"
Eni Fenti
2020