sexta-feira, 3 de abril de 2020

Série Lendas - EXU - O Ferreiro e o Fole



Desde pequena tenho um fascínio por fogo e  costumo chegar cedo ao terreiro que frequento, não gosto de (tb não é correto) chegar após o início dos trabalhos e sempre que tenho a oportunidade, acompanho a preparação da defumação pelos filhos designados a função. 
Em nossa casa há um filho, que sempre que olho para ele vejo o cigano que o acompanha e em uma determinada data estava ele a preparar a defumação utilizando um Fole, que é uma ferramenta usada pelos ferreiros para atiçar fogo na hora da forja de metais, hoje também utilizado para acender a churrasqueira,  neste momento veio a visão de uma espécie de acampamento com algumas carroças e vários ciganos cantando e dançando em frente a uma fogueira, com um deles a acendê-la  com um instrumento bastante parecido ao utilizado pelo filho da casa. Por isso iniciarei os contos com este tema.


O Ferreiro e o Fole
O ferreiro e o fole andavam se desentendendo para saber qual dos dois era mais importante no trabalho da ferramentaria.
         - Se te falto, de que forma poderás manter acesas as brasas que tornam maleável o ferro que trabalhas? Sem mim és inútil e, por este motivo, sou mais importante do que tu! – afirmava o fole cheio de vaidade.
         Cansado de tanta amolação, o ferreiro foi pedir orientações a Exu e, para agradá-lo, presenteou-o com uma belíssima faca.
         No dia seguinte Exu compareceu pessoalmente à oficina e, como era de hábito, lá estavam os dois discutindo e o serviço parado...
         - É claro que és muito mais importante que este ferreiro inútil! – disse Exu ao fole. – Queres ver o quanto ele é incapaz? – E dirigindo-se ao ferreiro:
         - Anda sopre sobre as brasas! Quero ver se pode fazê-las ficarem acesas a ponto de incandescerem o ferro.
         E o podre homem, sem nada entender, começou a soprar inutilmente sobre os carvões, e, por mais que se esforçasse, não obtinha nenhum resultado. Os carvões mantinham-se apagados como no momento em que ali foram colocados.
         - Vês o quanto és fraco e inútil? – gritou Exu, humilhando ainda mais o ferreiro.
         - Agora, amigo fole, mostra nos o quanto és poderoso. Deixa que eu amarre tua boca à entrada da forja para que nada se perca do teu sopro arrasador.
         Tocado em sua vaidade, o fole permitiu que Exu amarasse sua boca à entrada da forja e, com alguns poucos sopros, acendeu as brasas. Imediatamente, os ferros ficaram incandescentes e prontos para ser trabalhados.
         - Agora este tolo já sabe qual de nós dois é o melhor, solta-me Exu, para que eu possa dar as ordens em seu trabalho! – solicitou o fole cheio de orgulho.
         - Soltá-lo? Mas por nada neste mundo!...- Surpreendeu Exu. – Teu lugar é aí, com a boca sobre as brasas, atiçando-as para que o ferreiro possa trabalhar em paz. Agora já deves saber qual dos dois é tolo e qual dos dois é mais importante dentro de uma oficina.
         A partir de então os foles têm suas bocas permanentemente presas às forjas e, sempre que precisa de seus préstimos, basta ao ferreiro espremer suas barrigas para que logo entrem em ação.

Texto extraído do livro Lendas de Exu – Adilson Martins – ed. Pallas
https://www.amazon.com.br/Lendas-Exu-Adilson-Martins-ebook/dp/B016R0N3M8

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